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de corpo e água

No período em que a montanha e o rio foram meu lar, não só redescobri a vida, como também descobri minha relação com as águas e com a arte. Nas terras das águas negras, em 2022, a I Coletânea A Outra Margem surgiu inaugurando outra instância em mim. A Outra Margem é a surpresa da força do Desconhecido tomando o seu espaço na minha consciência.

 

Agora em terras cariocas, após dois anos, lanço a minha II Coletânea De Corpo e Água. Embora cinco das treze artes tenham sido criadas ainda com os pés sob o calor das pedras da água doce e apenas a última fotomontagem traga a quentura da areia — que desestabilizando meu passo fez dos meus pés firmes —, a coletânea nasce com os traços de uma vida que também surge aqui no Rio de Janeiro.

 

Se Lençóis me ninhou com seu afeto materno, o Rio de Janeiro impulsionou voos e, por efeito, quedas também. Costumo dizer que o Rio me fez Mulher. Fecundada pelo mar, gestada no coração de uma mulher, a II Coletânea é feita De Corpo e Água, de devoção à vida. Feita da busca do amor pelo corpo, do corpo emergindo do amor, do amor ganhando corpo.

 

Essa coletânea, diferente da primeira, traz a interação entre dois mundos: o natural, representado nas águas e nas pedras, e o humano, retratado no corpo. Quando dei por mim, percebi: aqui está surgindo uma nova coletânea que, como o amor, acontece…

 

Entre as ladeiras de Santa Teresa, enquanto eu procurava uma casa e descobria ruas mágicas, nascia uma fotomontagem, às vezes duas. Era uma caça ao tesouro: algo em mim sabia que quando eu encontrasse um lar, seria amor à primeira vista. E foi só me deparar com as janelas que soube o nosso destino. Nunca antes eu tinha morado dentro de um amor.

Confessei meus medos e, no rio que se abria na cama vazia, dividi segredos. Nascia mais uma, enquanto outra começava a ser gestada em pensamento. Nos domingos, o amor não vivido alargava a passagem do rio. Eu podia ver, entre os vãos das portas, as imagens escorrendo pelo chão.

Quem me contou que viriam ao mundo? As ondas felinas que mordiscavam meus sonhos deixados nas pedras do Arpoador. É que quando o sol dorme sobre o horizonte, meus sonhos saltam ao mar. Querem ser sonhados pela água inteira do mundo, querem voltar para a Mãe de origem. Mas nunca saio sem nada. O Arpoador sempre me devolve algo. Em agosto, me entregou o nome da coletânea.

 

Os treze filhotes, alguns já crescidos, outros ainda tímidos, todos carregados nos cantos dos meus olhos, entre os trilhos, os sambas, as feiras, as manhãs de praias, alguns já apadrinhados pelas amigas e encorajados pelo amor fraterno a ganharem voz e espaço. Treze fotomontagens. Em cada imagem, pedaços de um coração ardente à deriva, à procura. Mas, afinal o que tanto procura, mulher? Sou um rio inquieto, estou às voltas com minhas profundezas. Não paro, não paro até encontrar onde HáMar. E, em consequência,

 

Sou uma mulher apaixonada.

Por condição natural, amo

E quando amo,

Amo De Corpo e Água

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Agradecimentos e créditos:


À Carolina Andrade, que brinco ser a “minha” designer — porque acho chique demais dizer que tenho uma designer, e mais chique ainda por ser ela: uma mulher de olhar sensível e temperamento das águas do mar. Agradeço por abraçar meus filhotes, minhas ideias malucas, pirar junto e entregar todo o trabalho de identidade visual!

Elas, que me lembram que sou todinha feita de amor e água. Elas que admiram meus mergulhos, que mergulham junto e que me lembram que voltar à superfície é importante: amigas irmãs e nossos podcasts.

À minha grande amiga e imensa fotógrafa Mariana Amini, agradeço pela parceria que, em um dia de brincadeiras no rio, resultou em registros que fazem parte das seguintes fotomontagens: "Água Felina", "Amor Peixe", "Queda D’água" e "HáMar".

Agradeço à Lu Puiggros pelo ensaio que fizemos em 2020, meu primeiro ano em Lençóis. Duas das suas fotos foram utilizadas para compor as artes "Desatada" e "Canto da Solidão".

No mais, agradeço ao papel, à caneta, aos sonhos e à análise, ao vento e ao mar, às andanças sem destino na cidade que vai se fazendo lar. Sou grata pela beleza que encontro no curso da vida, mesmo em meio às águas turbulentas. Acredito que a beleza é uma teimosa maneira de persistir.

E, claro, agradeço a você por estar aqui. Que nada nos tire a beleza dos olhos!
Até breve!

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